sábado, 30 de abril de 2011

São Paulo 0×2 Santos – Muricy mirou no que viu, acertou no que não viu

sáb, 30/04/11
por André Rocha |
categoria Paulo Henrique Ganso, campeonato paulista 2011, muricy ramalho, santos
| tags campeonato paulista 2011, ganso, muricy ramalho, santos, são paulo

Volta do intervalo da primeira semifinal do Paulistão no Morumbi. Bruno Aguiar aparece para entrar na vaga de Zé Eduardo no Santos e, à beira do campo, quando questionado pelos repórteres confusos por conta da troca de um atacante por um zagueiro, diz que a ordem de Muricy era “preencher o meio-campo”.

A preocupação do treinador santista era pertinente. No primeiro tempo, após bons quinze minutos, com chute na trave de Neymar e arremate perigoso de Léo, sua equipe perdeu o a disputa em setor crucial. Arouca, Elano e Danilo, o trio de volantes do 4-3-1-2 inicial, não jogavam nem marcavam, especialmente este último, posicionado à esquerda, mas que não auxiliava Léo no combate a Ilsinho e Jean.

Sem companhia para a organização, Ganso ficou encaixotado pela boa marcação de Casemiro e ainda mais isolado porque Neymar permanecia fixo à esquerda, bem vigiado por Xandão, e Zé Eduardo era peça nula diante de Alex Silva e Miranda.

O São Paulo marcava certo, com duelos bem definidos em todo o campo: Xandão x Neymar; Zé Love x Miranda; Ilsinho x Léo; Jean x Danilo; Casemiro x Ganso; Paraíba x Elano; Juan x Jonathan; Marlos x Arouca; Dagoberto x Dracena e Durval. Alex Silva fazia a sobra no São Paulo. Em números um 3-1-4-2, mas com Marlos voltando para fechar o meio-campo.

Com a bola, a equipe de Carpegiani promovia intensa movimentação, com Dagoberto circulando por todo o ataque, Juan apoiando aberto e por dentro e Marlos acelerando ainda mais os contra-ataques. A marcação avançada proporcionou boas retomadas perto da área santista. Na melhor, saída errada de Jonathan, Dagoberto roubou, tabelou com Marlos e bateu. No rebote de Rafael, Ilsinho completou e o goleiro salvou com o pé.

Primeiro tempo: São Paulo no 3-1-4-2 com marcação baseada em duelos individuais e muita movimentação nas ações ofensivas; Santos no 4-3-1-2 com volantes inertes, Ganso bem vigiado por Casemiro e Neymar preso à esquerda, isolando Zé Eduardo.

A entrada de Bruno Aguiar repaginou o Santos no mesmo 3-1-4-2 do oponente, com Ganso se juntando a Neymar no ataque. Na prática, nenhum preenchimento do meio-campo, já que os alas Jonathan e Léo não centralizavam quando a jogada se desenvolvia do lado oposto. Na retaguarda, o terceiro zagueiro era desnecessário para marcar apenas Dagoberto.

O início da segunda etapa apresentou duas equipes confusas: o São Paulo tentando se adequar à mudança do adversário e o Santos buscando se aprumar em um desenho tático nada usual. Marlos não sabia se entrava como atacante ou mantinha o posicionamento dos primeiros 45 minutos e Miranda ficou sem função (veja no campinho abaixo o zagueiro sem ter a quem marcar); Elano parecia perdido, sem entender se era meia ou atacante, até porque Ganso seguia seu instinto natural e voltava para articular.

Mesmo com as dificuldades, o São Paulo era ligeiramente superior e quase marcou com Jean, que bateu por cima após mais um bom passe de Dagoberto.

Com Bruno Aguiar na zaga e Ganso no ataque, Santos voltou repaginado no mesmo 3-1-4-2 do adversário. O terceiro zagueiro era desnecessário para marcar Dagoberto, não houve o preenchimento no meio-campo e Neymar ficou isolado à frente; no São Paulo, Marlos não sabia se devia virar atacante ou manter a movimentação.

Tudo mudou aos quinze minutos. Mais uma vez, o talento subverteu todas as questões táticas e estratégicas. Paulo Henrique Ganso, o meia cerebral que gosta de jogar no centro do meio-campo, tirou da cartola uma linda jogada como ponta-esquerda e passou, não cruzou, na cabeça de Elano, que compensou com o gol a apatia do primeiro tempo e a indefinição no posicionamento da segunda etapa.

O pecado tricolor foi se abater demais com a desvantagem e dar o campo que a equipe de Muricy precisava para usar sua mais nova arma: o contragolpe. Carpegiani tentou tornar a equipe mais ofensiva, experiente e alta com as entradas de Fernandão e Rivaldo nas vagas de Casemiro e Marlos. A saída do jovem volante, porém, só facilitou a tarefa de Ganso, circulando livre às costas do meio-campo tricolor. E o ataque, muito mais lento, nada produziu. Lucas fez falta demais, é inegável.

Aos 27, o golpe fatal: lançamento longo de Ganso, como o meia que é, para Neymar, que mesmo isolado ganhou da zaga e rolou…para Ganso, que concluiu não como atacante, mas como o craque genial que é. No talento, mais que na tática, o Santos definiu a partida e o primeiro finalista em SP.

Com Rivaldo e Fernandão, um São Paulo mais ofensivo e alto, porém mais lento. Sem a marcação de Casemiro, Ganso desfilou às costas do meio-campo adversário, iniciou e finalizou o contragolpe do segundo gol.

Muricy merece elogios por não ter esperado os protocolares quinze minutos do segundo tempo para mudar sua equipe. Mas associar o justo triunfo santista apenas à sua mexida é simplismo. Desconsidera a capacidade dos jogadores de encontrar soluções em campo e, principalmente, minimiza o que fizeram os dois craques do time. Especialmente Ganso, que decidiu como atacante, mas é meia. Está no DNA. Um dos melhores do mundo, diga-se. Não há por que mudar.

A impressão que fica é de que o técnico mirou no que viu e acertou no que não viu. Melhor para o Santos.

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