sexta-feira, 29 de abril de 2011

A "bomba" que mudaria o Brasil

Ticiano Duarte - jornalista

Neste último domingo, 24, "A Folha" publicou uma reportagem assinada pelos repórteres Chico Otávio e Alessandra Dutra, trazendo ao conhecimento público mais detalhes históricos, com informações preciosas, sobre a explosão antecipada da chamada bomba do Riocentro, no Rio de Janeiro, que era conduzida num automóvel de marca Puma, pelo sargento Guilherme Pereira do Rosário e o capitão Wilson Machado, ambos das nossas Forças Armadas.

O sargento morreu e seu companheiro, o capitão, feriu-se gravemente. A coisa aconteceu no dia 30 de abril de 1981, em plena fase dos primeiros passos pela reabertura política, lenta e gradual, de inspiração do ex-presidente Ernesto Geisel e continuada pelo seu antecessor, general João Batista de Figueiredo. Conta-se de lá prá cá, exatamente 30 anos, do que poderia ter sido e não foi - a tentativa da direita terrorista de abortar o projeto de Geisel, de devolver ao país as instituições democráticas, que tinham sido postergadas no caldo grosso dos atos de exceção do regime militar.

O jornalista Josias de Souza, no seu blog, levanta a hipótese de que "o país provavelmente seria outro se uma das bombas transportadas no veículo não tivesse explodido no colo do terror". E ainda expõe o raciocínio, segundo o qual, "os comunistas seriam responsabilizados pelo sangue. A abertura possivelmente seria mandada ao beleléu. Prevaleceria um Brasil de linha dura, que desaguaria em mais selvageria, nunca no Tancredo Neves no Colégio Eleitoral".

Para os mais jovens, que não acompanharam o episódio sinistro, era a tentativa de explodir as bombas num show musical no Riocentro, apinhado de gente e jogar a responsabilidade para os "comunistas e subversivos", que faziam oposição ao governo militar.

É importante relembrar que se realizaram dois inquéritos militares. O primeiro em 1981, concluindo que o capitão ferido tinha sido vítima e não autor do planejado atentado. O segundo, em 1999, apontando o sargento morto e o capitão ferido como responsáveis pela explosão, não vítimas. Outros dois personagens também foram indiciados: o oficial do Exército, Freddie Perdigão e o civil Hilário Corrales.

O STM, Supremo Tribunal Militar, em decisão que o jornalista Josias de Souza classifica como uma pantomima, do "inacreditável para o inaceitável", abstendo-se de punir os terroristas de direita e entendendo que a ação deles estaria coberta pela lei de anistia.

Mas, o que impressiona na reportagem da "Folha", são as novas informações, com a descoberta, através da agenda de um desses terroristas, de nomes e endereços de pessoas envolvidas com a tortura e a espionagem. São inúmeros nomes que constam de uma rede de extremistas de direita, com o objetivo de deflagra atos para deter a abertura política. Segundo os repórteres, aparecem nomes de militares da chamada comunidade de informação, agentes das secretarias de segurança pública e representantes da sociedade civil, alguns ainda vivos.

Lembro-me de diversos episódios dessa época, antes da tentativa do Riocentro: uma bomba no hotel onde se hospedava, no Rio, o ex-governador Leonel Brizola, então voltando do exílio; uma outra na Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro; uma terceira, na Câmara de Vereadores, no Rio, que mutilou o funcionário José Ribamar. Uma, na Ordem dos Advogados do Brasil, para matar o seu presidente, Eduardo Seabra, nosso conterrâneo, filho do saudoso Miguel Sabra Fagundes, porque ausente escapou, perecendo a senhora Lydia Monteiro da Silva e ferindo seis pessoas. Os terroristas pararam somente quando Figueiredo prometeu prender e arrebentar quem se opusesse à abertura.

Mas, os terroristas da direita atuavam seguros de suas impunidades, para vergonha de nossa história e dos brios de democracia, justiça e liberdade.

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